É um trabalho que me atravessa de muitas formas, me sinto materializando algo não palpável, imaterial, de natureza imaginária, energética. A água com sua sutileza e transparência me possibilita isso. Aprecio todos os seus rastros e tento guardá-los como partes minhas em mais obras para o mundo.
Trabalhos
Em minhas pinturas, contemplo o elemento água e exploro suas poéticas e formas no suporte, assim como sua relação com o tempo e com a imaginação. Utilizo do processo criativo para me conectar com o divino e com meu eu mais profundo, buscando materializar portais, planos espirituais e veículos para o etéreo, que permeiam meu imaginário sobre o que há além da vida material.
Partindo das minhas observações das movimentações aquáticas no suporte, a série “Águas Dormentes” busca evidenciar e aprofundar a pesquisa sobre essa “forma de água” criada a partir do acúmulo. As obras registram o processo de evaporação da água que conforme vai reduzindo e se adensando, acaba por produzir linhas que marcam a temporalidade da obra.
O trabalho foi desenvolvido a partir de referenciais teóricos como o ensaio de Gastón Bachelard “A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria” e “O Gesto Inacabado” de Cecília Almeida Salles, e busca evidenciar os trajetos feitos pela presença da água na superfície em suas diferentes formas: claras e em movimento e dormentes, acumuladas e silenciosas. A cor branca é potencial para explorar o vazio e a ausência e extrair a potência poética de elementos mínimos na pintura, convidando o espectador a ampliar sua percepção e dedicar mais tempo à observação das mesmas.
Idealizei esse projeto a partir da minha inserção no meio clínico de pacientes com Mal de Alzheimer, doença que acomete minha avó, onde pude ter contato com essa realidade e observar comportamentos e padrões de repetição após certa evolução da doença.
Percebi que apesar do esquecimento, grande parte dos pacientes registrava algum movimento marcante em suas vidas no corpo, criando um mecanismo de memória repetitiva e inquietante.
O movimento da minha avó era andar. Observava ela andar de um lado para o outro compulsivamente até alguma intervenção externa. Assim que sentava, precisava levantar. Durante 30 minutos realizei esse movimento em um espaço de circulação de 170cm x 107cm, em uma superfície de algodão preparado.
Pintei meus pés de preto para registrar a ação no tecido e carreguei comigo um barbante em memória dos objetos carregados pelos outros pacientes da clínica, como bonecas, sapatos, bolsas, etc. O trabalho consiste na vídeo performance e no tecido com o registro.
O projeto consiste em sequências de fotos-performance onde tento caber/pertencer nesse espaço – casa a partir da ação de me encaixar. Este trabalho surgiu na pandemia em meio a aulas de performance online e o
isolamento. É uma expressão transbordante da tentativa de assumir esse espaço como o único possível, buscando outras formas de existir nele.